terça-feira, 16 de outubro de 2012

A Menina e o Coelho


Virgínia era uma esperta menininha da cidade grande, ingênua e doce. Tinha apenas 5 anos, os quais passara observando o mundo através da janela do seu apartamento em uma grande metrópole. Ela estava ávida por conhecer o novo mundo que se apresentava para ela ante a vida no campo.
Seus pais resolveram trocar a vida urbana pela rural, pois haviam comprado uma fazenda.
Logo que chegou na fazenda, a garotinha quis conhecer todos os animais que nunca vira antes em sua vida, a não ser em revistas, livros, TV ou outros. Ela gostou de todos, mas se encantou mesmo foi com um bichinho branquinho, peludo, de orelhas grandes e olhos vermelhos. E Virgínia logo perguntou:
- Que animal é você, fofinho?
O coelho, orgulhoso como era, não acreditava que a garotinha não conhecesse um coelho. Ele aproveitou que estava sozinho - pois a coelha estava em outra parte da fazendo com seus filhotinhos recém-nascidos – e respondeu cinicamente à garotinha:
- Eu sou um macaco!
Virgínia tão pura e crédula lhe fala:
- Já ouvi histórias de macaco, mas nunca havia visto um, nem mesmo em fotos.
Mas o coelho mais ainda se indignou com a pouca fama de sua espécie entre as crianças da cidade grande, que completou:
- Eis então o primeiro! E ao vivo e a cores!
Virgínia ficou encantada por conhecer um macaco, e como se afeiçoara por ele, passou a visita-lo todos os dias. E o coelho manteve sua identidade de macaco, e assim se relacionou normalmente com a menina.
Cada dia mais a menina gostava mais do seu amigo macaco, e meses se passaram, até que um dia, os pais de Virgínia lhe falam sobre um torneio anual que havia na pequena cidade próxima à fazenda, onde havia uma competição de animais de diversas espécies, entre eles: coelhos. Seu pai então lhe falou:
-Filha, vamos inscrever seu amigo coelho na competição, para que você o leve. O antigo dono da fazenda ganhou vários prêmios com ele.
A menina sem entender então respondeu:
- Se houvesse uma competição para macacos eu iria.
Os pais acreditando ser coisa da imaginação fértil de uma criança, só riram, e a mãe disse:
- Não filha, não há competição para macacos.
Os pais não insistiram com Virgínia, pois não sabiam que ela não distinguira um coelho de um macaco, e também não estavam muito empolgados com essas competições que haveriam. Só se interessavam mesmo em assistir o evento e passear juntos.
Virgínia então foi correndo ao macaco que apelidara de Floquinho(assim como muitas crianças gostam de nomear os coelhos) e contou sobre a competição da qual seus pais falaram. De repente os olhos do coelho brilharam e as lembranças em sua mente o fizeram viajar, e ele se dera conta de quem era, e o que estava fazendo, então desabafou:
-E se eu te disser que sou um coelho Virgínia?
E a garotinha gargalhou:
- O que é isso Floquinho? Você é um macaco!
- Não Virgínia, eu menti pra você: eu sou um coelho!
- Não, você é um macaco. Porque resolveu agora ser coelho?
- Porque eu sou um coelho!
- Você é um macaco!
- Coelho!
- Macaco!
- Coelho!
- Macaco!
E a discussão durou um bom tempo, e Virgínia não convencera Floquinho de que ele era um macaco, e nem ele a convencera de que na verdade era um coelho.
Anos se passaram, Virgínia foi à escola, cresceu, e descobriu que realmente Floquinho era um coelho, mas aí já era tarde demais. Porém no fundo, ainda há a suspeita de que Virgínia ainda desconfie da verdade...
Às vezes mentiras são sustentadas por tanto tempo e com tanta “veracidade”, que as pessoas duvidam da verdade quando ela é dita. E as pessoas que mentem por muito tempo acabam sendo vítimas de suas próprias mentiras. Algumas se envolvem tanto nelas, que tem dificuldade para discernir a verdade da mentira, pois passam até a acreditar nela.
E afinal, o que leva alguém a contar a verdade após tanto tempo alimentando uma mentira: a dor do outro ou o prejuízo para si próprio?
Veja o exemplo do poeta Fernando Pessoa. Ele tinha vários heterônomos, e ainda há estudiosos que acreditam que o próprio nome Fernando Pessoa era também um deles.  Um de seus heterônomos, Álvaro de Campos, assina o poema Tabacaria, no qual, descreve a perda da própria identidade ao sustentar uma mentira. Um conflito que se acredita que ele realmente vivia, baseada nos seus múltiplos heterônomos. Veja um trecho:
Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.

(...)Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.

Leia o poema Tabacaria, de Fernando Pessoa, na íntegra: http://www.insite.com.br/art/pessoa/ficcoes/acampos/456.php

Brunna Stefanya Leal Lima Cabral
 
Caso deseje citar integral ou parcialmente este texto, favor citar a autora e a fonte, exceções conceituam-se plágio.
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Um comentário:

  1. muito bom!a verdade é sempre melhor ainda q nos traga alguma complicação no momento;a mentira só retarda a complicação;porque a verdade sempre dá um jeito de aparecer.

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