José era um
humilde carpinteiro em obras da construção civil, trabalhador e muito
responsável com sua família. Fazia o que podia por ela, mas seus recursos eram
poucos e não era tanto o que podia fazer.
Maria era uma
pobre mulher simples, criada no interior, bem no sertão, no Vale do
Jequitinhonha. Era analfabeta, não sabia fazer um “o” com um copo, assinava com
sua digital. Mesmo grávida lavava as roupas das madames e carregava as trouxas
na cabeça sob um sol escaldante.
O casal
estava muito feliz com o primeiro filho que ia chegar. Maria tinha até ganhado
um bercinho de uma das donas pra quem ela lavava a roupa. Era usado, mas estava
conservadinho.
Lá no
interior, muitas mulheres ainda pariam em casa, então Maria se sentia
privilegiada porque seu filho ia nascer num hospital.
Já era tarde
da noite e José ainda não havia chegado. Era véspera de feriado em fim de ano e
o patrão dava pressa no serviço, e
todo mundo tinha que trabalhar até mais tarde, e nem ousava reclamar, pois ele
havia prometido uma cesta básica pra cada um, e todo mundo queria fazer por
merecer aquele agrado.
A dor lombar
de Maria incomodava cada vez mais, e a vizinha do puxadinho ao lado, que já tinha 5 filhos, falou com Maria que era
seu rebento chegando. A pobre pegou sua carteirinha do SUS e pé na estrada.
Ficou no ponto de ônibus até José chegar, e a essa altura já se contorcia de
dor.
Chegado ao
Hospital não havia vagas, pois em noite de Natal o movimento era grande e o
hospital lotava, eram pessoas acidentadas pois haviam bebido muito e dirigido
ou vítima desses irresponsáveis inconsequentes, haviam os que se envolveram em
brigas, e até os que se excederam na comida. Então mandaram que José a levasse pra outro, e
eles tiveram que prosseguir.
No outro
hospital, quando José falou com a atendente da portaria, ela disse a ele que
não havia médico de plantão naquela noite, pois todos estavam festejando com
suas famílias, e mandou irem para outro hospital, longe dali. E eles foram.
Nesse José nem careceu de pedir atendimento, havia na porta, abaixo de uma
guirlanda e entre outros enfeites natalinos, uma placa avisando que não havia
material necessário para nenhum tipo de atendimento. Procurando outro hospital
foi lhes informado que os médicos estavam em greve por melhorias nos salários,
portanto não havia atendimento.
Maria já não
aguentava mais, não podia dar mais nenhum passo, e José já não tinha nem
dinheiro nem “passe” para ir para
outro lugar, nem mesmo para voltar para casa.
Uma faxineira
que trabalhava no hospital se compadeceu do sofrimento de Maria e José e lhes
abrigou no almoxarifado do hospital, que elas usavam também como vestiário.
Maria mal
chegou ali e sentada no chão mesmo pariu seu filho, em meio a vassouras, sacos
de lixo e materiais de limpeza, mas com uma dignidade de caráter tão grande que
iluminava aquele lugar sujo. José com os olhos brilhantes não se conteve de
alegria e derramou lágrimas sobre o mais novo brasileiro a padecer as agruras
do sistema, e pegando seu filho no colo, perguntou à esposa:
- Como iremos
chamá-lo? Eu pensei em Natalino, por causa da data.
Ao que Maria,
a mulher simples e ignorante nos estudos e catedrática nas relações frias das
desigualdades sociais respondeu:
-Eu pensei em
Jesus. Pois o pastor do rádio conta a história dele, e disse que ele nasceu
numa manjedoura porque não havia lugar para sua família na hospedaria. Sua vida
foi difícil, mas mesmo assim ele não deixou de fazer o que tinha que fazer, e é
o espírito Dele que deve estar no nosso menino, pois esse tal de espírito de
Natal aí que as pessoas festejam, eu não quero pra “sinhô ninguém”.
Um feliz
Natal pra você e toda sua família e o que espírito do Senhor Jesus esteja em
você todos os dias do ano!
Um grande
abraço.
Brunna
Stefanya Leal Lima Cabral
Caso deseje citar integral ou
parcialmente este texto, favor citar a autora e a fonte, exceções conceituam-se
plágio.
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Jesus e as Mulheres
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