Um Velho Livro de Capa Preta...

 Lembro-me que minha primeira experiência com a leitura extra-escolar foi com a Bíblia. Toda minha paixão pelo estudo e minha formação acadêmica devo a descoberta da Bíblia. E não estou atribuindo a questões religiosas, éticas ou morais – mesmo reconhecendo sua importância -, e sim educacionais. A Bíblia foi objeto de transformação social na minha vida através da educação pela leitura.

Desde muito cedo, eu ia à igreja com minha avó paterna, ou com minha mãe onde eu ouvia histórias fantásticas: um casal que vivia num “jardim-pomar” e “corria com os animais”, o garotinho que cuidava de ovelhas e de repente resolveu com seu “estilingue” desferir com golpe mortal um gigante “inúmeras vezes” maior que ele, ou do homem “medroso” que por fugir do seu destino acabou engolido por uma “baleia”. Eram tantas histórias, e eu viajava ilustrando-as em minha mente, a ponto de divagar nesse emaranhado de imagens. Hábito que tenho ainda.

Ao completar seis anos de idade eu já sabia ler. E motivada pelas histórias que eu ouvia na Escola Dominical na igreja, ou que minha mãe nos contava, nasceu o interesse de ler eu mesma aquelas histórias e tantas outras contidas naquele “livro de capa preta”. A leitura era fascinante, mesmo que não entendendo muitas coisas, mas o pouco que eu compreendia já era o suficiente para alimentar o desejo crescente de ler ainda mais aquelas histórias. E a cada vez que lia suscitava novas perguntas, que muitas vezes não eram respondidas pelos adultos ao meu redor, e por vezes era necessário buscar naquele livro mesmo as respostas, mesmo sem um norte para tal.

Eu não tinha acesso a livros didáticos em minha infância, e como fora alfabetizada ainda no pré-escolar - o que era extraordinário para época - passei por todo processo de alfabetização novamente ao ingressar na primeira série. O que delongou ainda mais o meu encontro com outros livros que não a Bíblia. Crescendo meu amor e interesse por ela.

Depois, logicamente vieram muitos outros livros, e sinceramente não me lembro de me apaixonar tanto por nenhum deles, nem sequer lembro o nome de nenhum, até chegar minha adolescência.

Já no Ensino Fundamental, “me” apresentei à biblioteca escolar, onde por instinto fiz minha primeira grande leitura após a Bíblia: A Outra Face, de Sidney Sheldon, que acabou se tornando um de meus autores preferidos. Foi surpreendente aquela leitura, a partir dali queria ler tudo que ele escrevera, pena que a biblioteca não tinha mais nada dele. Mas dessa leitura em diante, não abandonei mais a biblioteca da escola, e muito menos o hábito de ler.

A leitura me levou à curiosidade, e a curiosidade me incitou a pesquisa, e  a pesquisa me redirecionou a leitura, e esta, me fez apaixonar por esse ciclo me instigando a escrever.

Minha primeira leitura me levou a concluir minha primeira faculdade. Eu precisa “matar” minha sede de respostas, mas apenas a “machuquei”, e isso é que é fascinante, a busca nunca termina. Gosto de ler e pesquisar e quero cursar Antropologia, ou me especializar na área, e como gosto de escrever sonho cursar Jornalismo. Só a possibilidade de realizar tais desejos me deslumbram. E tudo isso porque um dia eu abri um velho e grande “livro de capa preta”...

Brunna Stefanya Leal Lima Cabral

 
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