Assisti o documentário: "Pro dia Nascer
Feliz"(2.007) de João Jardim e achei ótimo. Adoro filmes e documentários e como esse ilustra bem
o tema Educação e Mudança Social, não podia deixar de comentá-lo.
A Sociologia reorienta a visão pedagógica, pois a
sociedade é que determina a funcionalidade do ensino no núcleo social no qual o
indivíduo está inserido. Por isso a necessidade de mudanças na estrutura social
do país, suas políticas públicas e legislação.
O documentário começa com uma narração de cujas
palavras ressalto a expressão: "Às vezes as pessoas realmente tem que
deixar de lado aquilo que elas acreditam para se conservarem vivas". E
prossegue com a leitura de um texto com manchetes e questionamentos acerca do
futuro que a educação proporciona aos jovens, forjando indivíduos conscientes e
autônomos, ressaltando a capacidade deles de votar e direcionar a política do
país. Mas logo no início, vemos a antítese dessa ideia. A educação por si só
isolada não é capaz de realizar tal.
Mas vou me ater apenas à educação e o contexto
social ao comentar o documentário.
Durante todo o documentário, observei que tanto nas
escolas de zona rural, urbanas, classe baixa ou alta, a estrutura física
escolar era sempre a mesma, a disposição das cadeiras, o quadro-negro, as cores
das salas, até a didática. Excetuando a escola de classe econômica alta, nas outras
- e inclusive na qual estávamos reunidos(turma da faculdade) - até as janelas
eram praticamente iguais, em modelo e dimensão. O que diferenciava as múltiplas
realidades expostas eram outros fatores: obviamente os sócio-econômicos, e o
desinteresse dos alunos, que leva a perda da motivação por parte dos
professores.
Aqui é que está o X da questão: Porque os alunos
não tem interesse? A maior distinção entre os alunos, na minha opnião, era a
expectativa que seu meio e entes supriam a seu respeito. Ainda que isso não
seja regra, mas é fator preponderante no sucesso do sistema educacional formal.
Expectativa gera perspectiva.
O documentário, a meu ver, apresenta os pais de
alunos de escola pública, de contextos mais pobres, como sujeitos nitidamente
conformados em formar a classe proletária do país. O que salienta essa idéia é uma
adolescente de Itaquaquecetuba retratada. Uma aluna bem sucedida na escola, que
se formou no ensino médio, mas no ano seguinte, estava já vivendo uma vida sem
perspectivas, trabalhando numa fabrica dobrando calças. Ela nem precisava
estudar para se capacitar para o trabalho.
Em contrapartida, no Nordeste do País, vivendo sob
extrema pobreza é que podemos extraír dois exemplos para nos ufanar: Clécia e
Valéria.
A pequena Clécia de 13 anos descreve as mazelas da
escola, destacando tanto o descaso dos alunos quanto a negligência dos
professores, sua determinação e persistência apesar de, sua constância nas
aulas e o crédito depositado no sistema institucional de educação. Este
implícito em suas palavras: -“Eu venho. Porque vou ficar na rua ou em casa
trancada assistindo televisão e aquelas coisas ´veia´ e ´suja´ que passa na
televisão?! ´É mais melhor´ vir pra escola que eu estudo e aprendo”.
E em uma imagem, muito mal focada(motivo até de
riso entre nós cursistas), a estudante procura um lugar pra se posicionar entre
os familiares, sob o agressivo sol do sertão, mas à luz dos olhos orgulhos dos
familiares e pai que em devaneias palavras diz: -“Ela é estudante, estuda, e
tem muita vontade de estudar, se pudesse não parava(...) e eu tenho a
maior vontade que ela estude pra se formar, pra crescer”.
O apoio familiar, e as expectativas que o meio em
que ela vive alimenta sobre seu futuro é que a leva a contrariar as
estatísticas. A exemplo disso, cito a aluna Valéria, um prodígio do sertão, que
desabafa: -“aqui, a gente na maioria da vezes não tem nem chance de sonhar,
aí a minha mãe”.
Fiquei boquiaberta quando ao pesquisar sobre a
cidade dela – Manari -, descobri que o IDH de educação teve um crescimento de
mais de 140% nos último dez anos¹. Não queria ver a situação lá antes disso!
E pra salientar outro aspecto importante abordado
são as falhas na legislação. Por isso remeto às palavras frígidas da aluna que
matou a colega a facadas: -“Não dá nada matar sendo ´de menor´. Três anos
passa rápido(se referindo ao tempo estimado de pena para o menor infrator neste
caso)”.Isso me leva a compreender que a legislação que rege a sociedade a
inclina pra onde quer.
Outro exemplo da falibilidade da legislação é a
permissividade e/ou omissão no tangente a displicência dos professores quanto à
frequência citada por uma diretora, implicando impunidade.
Mas o que achei perfeito foi que nos momentos
finais do documentário - englobando esses aspectos sociais, econômicos e
legislacionais abordados - uma câmera panorâmica passeia no alto de uma
metrópole retratando uma miríade de casas contíguas de uma favela em
disparidade com os aglomerados de prédios e condomínios de luxo separados
fisicamente apenas por uma via de trânsito aparentemente sem pavimentação,
aludindo à realidade de que os contextos sócio-econômicos menos favorecido e os
mais abastados se complementam dentro da sociedade como um todo. Enquanto essas
imagens se apresentavam a nós, ouvimos as frívolas palavras de alguns alunos: -“Até
os políticos ricos roubam. Eles roubam e não são presos. Eles roubam milhões e
milhões. A gente ´pega um pequeno custo´, de menos de mil reais e é preso. Os
próprios caras grandes lá, roubam. E ´nós` da sociedade que ´é´ minoria, não
vamos roubar porque? E o pior é que todo mundo sabe que eles roubam. A
criminalidade existe por causa deles mesmos, eles estão colhendo o que eles
plantaram”. Ao final cada um fala sua idade, e pra nossa tristeza essas
variam de 14 a 18 anos.
O glorioso final do documentário é confiado à aluna Valéria, com
sua versão intertextualizada do poema Canção do Exílio, e às imagens
pós-scripts das crianças de baixa renda do sertão nordestino recebendo
humildemente o prato de merenda escolar da mão de uma professora, olhando
ingenuamente, tímidos e desconfiados para as lentes da câmera.
O Futuro do país não está essencialmente na
educação, mas sim das crianças, e o que os profissionais da educação, em
parceria com os pais, políticos e sociedade no âmbito geral, podem fazer delas.
Daí a importância das mudanças sociais e sua influência na educação.
E quanto ao dia nascer feliz, vai que um dia
nasce...
Brunna Stefanya Leal Lima Cabral
Caso deseje citar integral ou parcialmente este texto, favor citar a autora e a fonte, exceções conceituam-se plágio.
¹Wikipédia - Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Manari - Acesso em: 15 de Setembro 2.011
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