Na semana passada, o
IBGE divulgou dados comparativos entre os censos realizados nos anos 2.000 e 2.010
sobre religião, e apontou crescimento de 61,45% dos evangélicos nos últimos dez
anos.
Sinceramente essa
notícia me deixou mais temorosa e apreensiva do que feliz. Fiquei pensando em
quanto importa para os “evangélicos” esse crescimento quantitativo, quando em
detrimento a qualidade tem decrescido.
A satisfação pela
nomenclatura “evangélico” já aponta indícios do problema. Tenho orgulho de
dizer que sou cristã protestante, e não evangélica. Lembro-me do sangue dos
tantos mártires que foi derramado na luta pela reforma protestante, e que é
ignorado pelos atuais “evangélicos”, que seguem as suas “celebridades gospel”.
É o fim da picada! Aliás, não é, porque quando pensamos que chegamos ao limite,
ele é superado.
É obvio que a
anunciação do evangelho não é o que me entristece, mas o que tem sido feito do
evangelho e “em nome dele”.
Antes se falava de
cristianismo nominal, hoje já se fala de evangélicos não praticantes. Distinção
feita anteriormente só em relação ao catolicismo, e acredito que os “católicos
mesmo” nunca gostaram de saber que pessoas não tinham religião nenhuma se
denominavam assim. Eu quero saber: “o que é um evangélico não praticante?” É um
“simpatizante”? Ou seria alguém que tenha uma postura muito próxima a de um
evangélico?
Nietczshce(1.882)¹ fora
- e ainda o é – criticado por dizer que
Deus está morto. Apesar de ateu, a colocação de Nietzsche não se tratava de uma
apologia à sua descrença, mas era, em outras palavras, uma crítica ao homem e
sua religião antropocêntrica, cujos princípios e moral se flexionam de acordo
com seus próprios interesses. Para ele Deus está morto na consciência dos homens.
Eu indago: com esse “evangelicalismo
distorcido” que vemos hoje, que lugar ocupa Deus? Não teria ele se tornado só a
Rainha Elizabeth dos evangélicos? Na
Inglaterra, o país é administrado pelo primeiro ministro, mas há uma rainha que
o representa, e é seu rosto que vemos nos eventos importantes, mas não é ela
quem decide em primeira instância os rumos do seu país. Não estariam então,
hoje, fazendo de Deus, só o cara do trono? Pois é assim que o Soberano tem sido
tratado. Líderes tem orientado as pessoas a decidirem o que querem e só
informarem a Deus, pois elas já determinaram o que querem, dispensando-o de
fazê-lo. Se eu mesmo determino o quero pra mim, menosprezando o poderio de
Deus, que Ele esteja morto então, é indiferente.
Vi plotado num carro: "Foi o trabalho que me deu. Dirigido por mim, guiado por mim mesmo". Acho mais sincero do que: Foi Deus que me deu e dirigido por mim, guiado por Deus, como vemos comumente. Sendo que as pessoas tem sido consumidas por seu trabalho, abrindo mão do que é extremamente essencial no reino para conquistar bens materiais, e guiam suas vidas sem ao menos importar que rumos o Senhor tem pra ela. É uma religiosidade estética apenas, porque Deus está morto na consciência dos homens..
Pra maior tristeza
ainda alguns se fundamentam em Paulo para defender as bizarrices que temos
visto: “Mas que importa? Conquanto que Cristo seja anunciado de toda a
maneira”(Filipenses 1:18). Quando Paulo usa esse argumento, ele fala da
motivação que leva as pessoas a anunciar o evangelho, não da mensagem que era
pregada. Para ele, ainda que a mensagem não fosse anunciada de boa vontade e
coração alegre, ainda sim, o poder da verdade pregada, é que surtiria
resultados e não a disposição de quem a pregasse.
Os cristãos vem
perdendo sua identidade, e ignorando o caráter de Cristo e sua forja em si.
Abrimos mão até do nome que evoca nossa história e nos distingue das outras
religiões cristãs: protestante. Adotamos um nome que nos encaixa nos modismos e
ventos de doutrinas que vem e passam. Nos repaginamos!
Será que ainda sabemos
quem somos? O próprio Nietzche(2.005)² também se perguntava, e depois Focault e também Deleuze: “O que estamos fazendo de nós mesmos?
"Depois dos acontecimentos,
perguntamos, tolamente estupefatos e desconcertados: 'o que está acontecendo
conosco? Quem somos realmente? E depois contamos, como foi dito, as trêmulas
horas de nossa experiência vivida, de nossa vida, de nosso ser, ai de nós!, nos
enganamos na conta... É que somos precisamente estranhos a nós mesmos. Não nos
compreendemos, temos que nos confundir com os outros, estamos eternamente
condenados a esta lei: 'não há ninguém que não seja estranho a si mesmo'; nem a
respeito de nós mesmos somos 'homens de conhecimento'" (NIETZSCHE, 2005,
p. 13)
Nessa contagem, se
traçarmos um paralelo entre a quantidade e a qualidade dos cristãos(e o
termo aqui é eufêmico) hoje, na relação custo benefício o saldo é com certeza
negativo.
O mais intrigante
nessas pesquisas - financiadas pelo governo – é que num estado laico interesse
tanto determinar a religião mais popular ou ostensiva do país, não?!
Brunna Stefanya Leal Lima Cabral
Caso deseje citar integral ou parcialmente este texto, favor citar a autora e a fonte, exceções conceituam-se plágio.
¹NIETZSCHE, Friedrich. A Gaia
Ciência. Alemanha: 1.882. §125.
²NIETZSCHE, Friedrich. A Genealogia da Moral. São Paulo:
Escala, 2005.
Leia Também: O Líder Que Caminhava de Costas
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Gostei muito da sua reflexão e isso me causa um certo receio, o numero esta crescendo mas o que realmente server a Deus em verdade e espirito?
ResponderExcluirGrata por querer divulgar seu blog em nosso espaço assim que o link for postado aviso, pois sigo a ordem das inscrições.
Vero, filhinha. Ter o caráter de Cristo, isso é o que importa.
ExcluirBom texto. Boa análise. Como cristão protestante (por santa tradição) e evangélico (por princípio bíblico), compartilho com você com a apreensão quanto aos destinos que estão dando a nossa fé. Mas ainda levo a sério 1Rs 19:18.
ResponderExcluirUm abraço
Infelizmente caro Jabes, às vezes é mais preocupante o que os cristãos fazem dentro das igrejas do que fora dela.
ExcluirBendita sua preocupação, mas esses destinos são dados à religiosidade, pois fé de verdade, poucos destes tem.
Abraço
Também senti um certo receio com a sua reflexão com relação a minha vida.Como podemos então saber que estamos seguindo os designos divinos?Eu me inclinei para estudar a biblia e conhecer a vontade divina. É a forma correta?
ResponderExcluirOi Pierrot!
ExcluirSomente através da leitura bíblica e oração é que podemos encontrar as respostas que procuramos em Deus.
Abraços