Em
um lugar destruído por guerras, perversidade humana e catástrofes naturais, uma
população desolada vê na oferta de abrigo em seu reino, de um rei generoso e
altruísta, alento para seu sofrimento.
No
entanto, seu reino era distante, e para chegar lá a caminhada era dura e longa,
o que já era desanimador o bastante para muitos que se encontravam abatidos por
tanta dor e sofrimento.
O
rei disponibilizou àquele povo, dois grandes líderes de sua corte para conduzir
o povo que desconhecia o caminho.
Um
dos guias era um senhor franzino, de voz suave, mansa e doce, olhar cortês e
ouvidos sempre atentos e disponíveis. Porém, havia nele uma peculiaridade um
tanto quanto excêntrica: ele caminhava de costas.
O
outro guia, era um homem robusto, de voz firme e olhar marcante. Um líder nato.
Pulsava liderança. Ele sempre olhava para frente e nunca se desviava do
caminho.
O
primeiro guia, caminhava sempre de costas, pois conhecia muito bem o caminho
que haveria de percorrer, mas não conhecia ainda as pessoas que o seguiriam, e preocupava-se
muito com cada uma delas, e as queria conhecer bem. Ele acreditava que o êxito
em sua jornada não estava em apenas chegar ao destino, mas em como chegariam
lá, e que as experiências da jornada eram determinantes para que os que o
seguiam não desistissem da caminhada.
O
segundo guia, nunca perdia de vista o caminho, e com seu espírito de liderança
atraía multidões, e estas o idolatravam, faziam tudo que ele mandasse,
obediência que beirava a insanidade. Ele acreditava que mais importante do que
o trajeto era o destino da caminhada, portanto sua preocupação demasiada com
ela. Ele não precisava olhar para trás porque sabia que muitos lhe seguiam.
O
primeiro guia não chamava a atenção de muitos, e geralmente os mais debilitados
é que o seguiam, devido à sua tranquilidade em conduzi-los. Porém, poucos
desanimavam na estrada, pois aquele líder nem tão eloquente, caminhava passo a
passo com os seus, e lhes apoiava, dando-lhes ânimo, e lhes descrevendo tudo
que lhes aguardara no reino de seu senhor se perseverassem no caminho.
O
segundo guia atraía multidões. Sua fala era convincente, seu discurso persuasivo,
e as pessoas o seguiam, não importava onde ele fosse, e o caminho também não
era o mais relevante naquela empreitada, por mais que eles acreditassem que
fosse. Mas muitos porém, catatônicos, hora ou outra se perguntavam o que
estavam fazendo, e desistiam na estrada.
Percebendo
um dos que era liderado pelo segundo guia que o segredo do sucesso do primeiro
- que dificilmente se deparava com algum desertor na jornada - era caminhar de
costas para ver o seu grupo, resolveu dar um presente ao seu líder.
Abriu
o guia aquela caixa, que vinha com a promessa de lhe completar o sucesso na
liderança com o ingrediente que o conferia ao colega guia, e quando ele olhou
para o presente, ficou encantado com o que via, e ao tirar da caixa, percebeu
que pudera ver nele muitas coisas. Aquele que o presenteara disse:
-Assim
mestre, o senhor poderá andar olhando para frente, sempre vendo sua retaguarda.
O
segundo guia então passou a caminhar olhando para frente como sempre o fizera,
e com seu presente nas mãos para ver os que o seguiam, mas vez ou outra se
encontrara enquadrado nele, e de repente se descobriu “Narciso”¹. Daí em
diante, o guia que olhava para frente, nem pra frente, nem para trás mais olhava,
somente para sua própria imagem, refletindo o quanto egoísta ele já era. E o
povo que o seguia continuou o seguindo, sem nem saber que nunca chegaria a lugar
algum, pois nem sabiam que estavam perdidos, porque não amavam, mas idolatravam seu líder,
e nunca aprenderam com ele o verdadeiro caminho. Eram portanto, incapazes de
reconhecer algum desvio na rota.
O
primeiro guia, sempre se preocupou em andar de costas, pois conhecia o caminho,
que estava em seu coração, e sabia para quem conduzia o povo, e queria olhar em
seus olhos, e nunca se descuidar daqueles que tropeçam no caminho, se machucam
ou se cansam. Se caminhasse de frente, certamente não poderia fazê-lo. E se
caminhasse de costas, poderia caminhar com os seus, apresentando-lhes o
caminho, e a importância de seguir por ele. Assim, em sua falta, eles poderiam
fazê-lo sozinhos, e caso se desviasse dele, eles teriam autonomia para
reconhecer seus passos desviados, e não se perderiam com ele.
O
segundo guia nunca olhou nos olhos dos que o seguiam tão pouco conhecia seus
rostos. Quando este líder caí, os que o seguem caem com ele e continuam o
apoiando. O pior de tudo, é que nem se dão conta de que caíram.
Nossos
dias estão cheios de líderes que caminham olhando para frente, e arrastam
consigo multidões, e só sabem dizer quantos os seguem, e se esse número é ascendente
ou decrescente. Dizem se muito preocupados com o caminho que indicam, mas na
verdade nem o conhecem, e guiam as pessoas a si mesmos, ou aos seus próprios
interesses. Basta ligarmos a TV, sintonizarmos o rádio ou abrimos uma revista e
os encontraremos. Eles buscam estar sempre sob os holofotes, e se sentem até
mais iluminados que eles. Seus nomes estampam jornais, portais virtuais, sites,
faixas nas ruas, folders, faixadas e placas de igrejas, ônibus e até aviões.
Simplicidade e humildade não são atributos deles.
Em
contrapartida, temos os líderes que caminham junto dos seus, olham nos seus
olhos, os conhecem, e se preocupam com eles. Suas igrejas crescem lentamente e
são pequenas, não promovem eventos pomposos, e dispõem de pouquíssima ou
nenhuma publicidade. Estes amam tanto o caminho, que podem caminhar de costas
tranquilamente, pois seu coração fiel ao Senhor do Reino os guiará.
Ah,
que falta fazem líderes que caminham de costas... Você conhece algum?
Brunna Stefanya Leal Lima Cabral
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¹Narciso – Herói da mitologia grega(há controvérsias), cujo o mito possuí várias interpretações, mas em todas descreve o homem que se apaixonou pela própria imagem e só conseguia olhar para ela, nada mais.
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